quinta-feira, 27 de julho de 2017

Direi agora o que outrora calei

Direi do ser que não é,
do amor que se foi, não indo,
da saudade que virou cortesia,
numa tarde que fez terminar o dia,
mais tarde do que devia.

Direi de mim que sem ti não sou,
de ti que o sol perturbou,
 num mar que te deixou,
ainda orfão de ser completo.

 Direi que sim, mas que é não,
 de verdade na aparência da ser,
de martírio que se quer espiação,
dum amor que não foi (ou foi?) em vão.

 Direi ainda que já foi um eterno ser que se perdeu,
numa desvairada imensidão de querer
 e se ficou no padecer,
de ter filhos em alheia mulher,
logo efectivados na estreia...

 Fizeste a escolha muito mal,
 porque foste (in)glório,
 num pedestal que era meu,
que era mais que carnal
e foi sendo eterno
num tempo (in)finito,
capaz de ser ainda interdito,
mas afinal intemporal,
ainda que proscrito!

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Os Teus Olhos

Direi verde
do verde dos teus olhos

de um rugoso mais verde
e mais sedento

Daquele não só íntimo
ou só verde

daquele mais macio mais ave
ou vento

Direi vácuo
volume
direi vidro

Direi dos olhos verdes
os teus olhos
e do verde dos teus olhos direi vício

Voragem mais veloz
mais verde
ou vinco
voragem mais crispada
ou precipício

Maria Teresa Horta, in 'Candelabro'

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

sábado, 26 de dezembro de 2009

YO CANTARÉ DE AMOR TAN DULCEMENTE

"Yo cantaré de amor tan dulcementeel
rato que me hurtare a sus dolores,
que el pecho que jamás sintió de amores,
empiece a confesar que amores siente.

Verá como no hay dicha permanente
debajo de los cielos superiores,
y que las dichas altas o menores
imitan en el suelo su corriente.

Verá que ni en amar alguno alcanza
firmeza (aunque la tenga en el tormento
de idolatrar un mármol con belleza).

Porque si todo amor es esperanza,
y la esperanza es vínculo del viento,
¿quién puede amar seguro en su firmeza?"



Gabriel Bocángel,
Poeta Espanhol

sábado, 9 de maio de 2009

Quantos Seremos?

Não sei quantos seremos

mas que importa?!

Um só que fosse

e já valia a pena

Aqui no mundo

alguém que se condena

A não ser conivente

Na farsa do presente



Não podemos mudar a hora da chegada

Nem talvez a mais certa

A da partida.

Mas podemos fazer a descoberta

Do que presta

E não presta

Nesta vida.


E o que não presta é isto

esta mentira

Quotidiana.


Esta comédia desumana

E triste

Que cobre de soturna maldição

A própria indignação

Que lhe resiste.


Miguel Torga, Câmara Ardente
(retirado do Blogue Amor + Energia = Equilíbrio

quinta-feira, 18 de setembro de 2008